O governo brasileiro tenta acelerar uma solução diplomática para o chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos. A expectativa do Planalto é que uma reunião com representantes da Casa Branca aconteça em até 15 dias, em Washington, com o objetivo de discutir a retirada das sobretaxas de até 40% sobre produtos brasileiros.
Segundo o G1, devem participar do encontro o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Apesar do otimismo moderado, fontes do governo reconhecem que a ausência de clareza sobre as exigências norte-americanas gera preocupação e levanta o alerta para possíveis pressões do presidente Donald Trump, que pode tentar transformar a negociação em uma demonstração de força.
No Planalto, há receio de que o presidente dos Estados Unidos utilize o impasse tarifário para impor chantagens diplomáticas e cobrar concessões que extrapolem o campo comercial, especialmente em temas sensíveis como meio ambiente, tecnologia e geopolítica regional.
Diplomatas avaliam que Trump pode tentar “vender” internamente um eventual acordo como uma vitória pessoal, o que limitaria a margem de manobra brasileira.
“Se Trump se reúne com Lula e não menciona os termos da carta de julho, significa que esses tópicos estão fora da mesa da conversa”, disse uma fonte ouvida pelo G1, referindo-se às tentativas anteriores da Casa Branca de vincular a pauta tarifária a temas políticos.
Mesmo assim, no Itamaraty, cresce o entendimento de que o presidente norte-americano pode recorrer a táticas de pressão para obter vantagens nas negociações.
Brics e Venezuela seguem fora da pauta
O governo brasileiro descarta, por ora, a inclusão de temas como a participação do Brasil no Brics ou o comércio de terras raras na rodada de conversas. No entanto, diplomatas admitem que a Venezuela pode voltar a ser citada por Washington como forma de barganha, embora o assunto não deva ocupar posição central no encontro. “É um tema muito preocupante e traz consequências complicadas para a região, portanto não descartamos que volte a ser ventilado”, afirmou outra fonte do governo.
Estratégia do Planalto busca preservar soberania e equilíbrio
A equipe econômica e diplomática brasileira tenta montar uma estratégia de negociação que evite concessões assimétricas, preservando a autonomia política do país e, ao mesmo tempo, garantindo uma saída rápida para o impasse comercial.
Embora ainda não haja data confirmada para o encontro entre os negociadores, o governo teme que a cúpula do clima em Belém atrase a viagem da comitiva brasileira a Washington.
Mesmo assim, o Ministério das Relações Exteriores segue empenhado em construir um entendimento que combine pragmatismo comercial e resistência a possíveis manobras de pressão política.
Expectativas e riscos
A depender da postura americana, o Brasil pode enfrentar um dilema entre aceitar condições que favoreçam Washington ou prolongar o impasse, com impactos econômicos imediatos.
Para diplomatas experientes, o risco de chantagem política não pode ser descartado, e o governo brasileiro precisa “negociar com firmeza, sem perder a independência”.
O resultado das conversas será decisivo para o comércio exterior e para a imagem do Brasil como ator relevante e soberano no cenário internacional.
O desfecho também servirá como termômetro das relações entre o governo Lula e o presidente Donald Trump.